29.11.08

a minha decoração de natal

Uma das pouquíssimas coisas de que eu gosto a respeito do natal é o fato de que todo ano, infalivelmente, minha avó enfeita a casa dela inteirinha. Então, quando eu chego para a ceia, está lá tudo bonito e arrumadinho, e boa parte da graça vinha justamente de estar tudo pronto e eu não ter visto o processo. Isso tinha lá a sua magia.
Semana passada eu fui visitá-la. Minha tia que mora com ela viajou no dia em que eu cheguei, e a Giulia e a Beatriz, minhas priminhas, vieram ficar com a gente depois da escola.
Lá pelas tantas, minha avó decidiu que seria a hora de começar a montar a decoração de natal. Foi lá na despensa e voltou com uma caixa e 17 sacolas, aproximadamente.
Eu estava indo para o quarto com as meninas porque, afinal, aquilo era assunto dela, mas ela não deixou. Resolveu me pedir ajuda.
Como eu não sou a pessoa que nega pedidos à própria avó, eu comecei a empurrar móveis, desencaixotar a árvore de natal, pendurar guirlandas, bolinhas e bonecos. E aquilo me deixou triste, porque tudo o que eu estava fazendo tinha que ter sido feito pela mão invisível do papai noel que conduz o natal em São José (à la Adam Smith).
Para minha imensa surpresa, as meninas estavam se divertindo muito com tudo aquilo. Elas gostaram de pendurar cacarecos na árvore e de me ver com medo de cair do banquinho capenga que me foi disponibilizado para pendurar o papai noel pára-quedista no lustre da sala.
Do ponto de vista delas, a diversão não era encontrar tudo pronto, era fazer. E isso me deixou meio perplexa, porque para mim sempre foi reconfortante ver que a minha avó tinha despendido tempo e carinho para fazer a casa ficar bonita para mim, os filhos, os outros netos e os agregados, porque sempre os há.
Mas Giulia e Beatriz não precisam disso. Acho que as crianças de hoje são mais fortes. Ou simplesmente não têm as mesmas ilusões que eu tinha, porque eu de fato tinha lá as coisas faziam o meu natal ser "mágico" e divertido. E essa era uma delas.
E pensar nisso me fez perceber que o natal é uma grande mentira. Se eu quisesse parecer melhor do que eu sou, eu diria que é por isso que eu não gosto dele, mas até não é. Não gosto porque acho triste e implico. Implico mesmo.
Talvez, por ter essa picuinha, eu tenha exagerado, confesso. “Grande mentira” é forte demais. O natal está mais para uma mentirinha branca, daquelas que a gente ouve, acredita ou não, mas repete, passando adiante, porque sabe que não vai fazer mal algum a ninguém.
Às vezes acho que a gente simplesmente precisa de uma mentirinha branca.
Tem situações em que a realidade é difícil demais de encarar, então a gente inventa uma explicação alternativa, como é o caso de quando alguém que a gente gosta morre.
Ou então você passou o ano inteiro trabalhando, longe de todo mundo, correndo para lá e para cá, e precisa tirar uns dias para encontrar a família ou só relaxar. Daí entra o natal. Lógico, vem encapado de celebração do nascimento de Jesus e tal, mas é feriado mesmo para quem não acredita nEle, o que só evidencia mais o seu caráter de inverdade da espécie alva.
A maior vantagem dessas mentirinhas brancas é que elas são muito convenientes. Adoro ter legitimidade para passar a tarde assistindo filmes velhos da programação bizarra de fim de ano porque é natal.
É a mesma coisa com a história do céu. Tiram de você alguém que você ama, mas te dão em troca a esperança de poder reencontrá-la um dia. Não dá para negar que é um conforto pensar que eu vou reencontrar o vô Celso e o Di, um dia; esses pensamentos tornam a realidade bem mais suportável.
Como se não bastasse, dizem por aí que o reencontro se dará num lugar melhor, onde a gente não vai ter que se preocupar com trabalho, nem com dinheiro, nem em perder tempo longe do que importa, nem com a segurança, nem com nada. Pô, animal.
Mas a verdade é que só reencontrá-los já bastava.

(caso não tenha dado para perceber o espírito, esta é a decoração de natal deste blog.)

1 comment:

denisard said...

Quesaudadesdaminhavoinhaamadadomeucolação! ={