23.1.10

A maldição da flor dourada

Foi um filme chinês que eu assisti esses tempos aí. Começou assim: belo dia, minutos antes de ir pra praia, estava eu sentada no sofá da casa da Lê e começou a passar num TeleCine. E eu, que estava preocupada em entrar no carro rumo ao litoral com a minha bagagem, quase não dei bola. Exceto pelo fato de que tinha tantas cores e era tudo tão bonito que eu gravei o nome e achei que deveria ver em algum momento.
Depois de algumas tentativas frustradas, consegui baixar. Voltei para casa após mais uma jornada comum de trabalho, e começamos - minha mãe e eu - a assistir. Mas o calor, o escritório, a falta de rumo e todas essas coisas tão de janeiro somadas à minha quase invencível tendência a ferrar no sono em longas metragens acabaram me fazendo dormir no meio.
Quando eu acordei, já não entendia mais nada. Não que a história fosse muito complicada, só que eu tinha perdido um bom pedaço e minha mãe é da política do "não vou parar para te contar o que você não viu".
Revoltada, fui para o meu quarto, deitei na minha cama e comecei a ler. Lá pelas tantas, o filme acabou e eu comecei a ouvir a música que toca enquanto os créditos passam.
E era bonita a música. Em mandarim e tal, mas a melodia era boa e parecia mesmo que o cara que cantava tinha algo a dizer, tipo assim:

"La la la li li li
E o Sheldon vai cair
Blerulá, sitchuli
E pra cada um daqui"

Isso me fez lembrar de quando eu era criança e cantava fluentemente as músicas num inglês que eu ainda não falava. Toda criança sabe de cor as músicas que ouve na Antena 1 no carro porque, se não entende o que está sendo dito, inventa.
Eu às vezes perguntava, mas meus pais tinham bastante preguiça de me explicar o que se cantava ali e ensinar a pronunciar direito. Diziam que quando eu fosse mais velha eu entenderia.
Não que dê para culpá-los, mas o fato é que hoje eu entendo inglês e saber as letras das músicas é quase, quasi, uma obsessão.
Mandarim, porém, eu não entendo não (nem pretendo). Só que a música me fez lembrar disso tudo que eu contei. De quando eu achava que ia crescer, aprender não só o que os cantores cantavam, mas muitas outras coisas, que ia ser uma pessoa inteligente, interessante, cheia de conversa e de entendimento. Ia sentar na roda com os adultos tomando café e discutindo como a inflação diminuiu o poder aquisitivo bláblá, ao invés de ouvir um "vai brincar ali com o seu irmão". Fez com que eu experimentasse de novo aquele negócio de que eu ainda não cheguei onde posso chegar e tal.
Deixando de lado a tentação ao balanço do que aconteceu dos tempos de Alpha FM para cá, do que se concretizou e do que eu acho que já estou velha para fazer acontecer, foi um sentimento no mínimo interessante, aquele.
Então é isso. Um post meio atrasadinho de ano novo para desejar que em 2010 vocês tenham (de novo) aquela sensação de que ainda há muito o que fazer, de que o melhor ainda está por vir, de que com esforço e um pouco de fita adesiva a gente faz qualquer coisa nesse mundo.
E, se não der certo, vale tentar tesoura sem ponta e cola bastão, porque isso nunca falha. Nunca mesmo.