19.3.09

Esta é uma daquelas circunstâncias...

Hoje eu entrei no metrô para ir para o trabalho, liguei minha música, abri meu livro e fui lendo. Quando eu estava chegando na estação Sé, que é onde eu desço, exatamente no momento que eu consideraria perfeito para parar de ler (de modo a que desse tempo de eu abrir a bolsa, guardar o livro, fechar a bolsa e sair graciosamente), o livro acabou.
Exatamente no momento.
E eu desci do metrô me sentindo especial, como se eu fosse personagem de um daqueles filmes que passam no natal em que coisas mágicas acontecem. Não estava triste, como eu sempre fico quando meus livros acabam, tinha saído elegantemente de dentro do trem como quem nasceu para fazer aquilo, e o livro acabou na hora certa.
Parecia que o universo tinha conspirado a meu favor, porque sabia que eu ia ficar assim felizinha com o timing perfeito.
Mas não durou muito. Eu lembrei daquele episódio de the Big Bang Theory em que a Penny pergunta para o Sheldon se ele quer alguma coisa do supermercado bem na hora que ele estava pensando que precisava mesmo fazer umas comprinhas, e daí ele fala, numa tradução livre, que “esta é uma daquelas circunstâncias que as pessoas que não estão familiarizadas com a lei dos grandes números chamariam de ‘coincidência’”.
Isso me fez pensar que, diante da enorme quantidade de pessoas que pegam o metrô de suas casas rumo aos seus trabalhos com um livro na bolsa, e contando também as pessoas que fazem o mesmo em ônibus, trens, fretados, bondes, táxis e tantos outros meios de transporte, o fato de o meu livro ter terminado bem na hora certa não foi conspiração do universo, não foi coincidência, foi estatística.
Além disso, pensei que outras pessoas que não eu deveriam estar terminando os livros nos momentos que considerariam exatos para parar de lê-los, porque, ao contrário de nós - afortunados do momento ideal - existia um número muito maior de outros que não estavam tendo a mesma “sorte” e tinham que ler algumas frases bem rapidinho para acabarem um parágrafo antes de descer, ou que saíam andando bobamente para poder finalizar o capítulo nas escadas rolantes.
Ficou claro, então, que, ao contrário do que eu tinha pensado inicialmente, aquele trem do metrô não era especial, nem eu sou especial, nem o livro em questão era especial (ainda que eu continue a achar que vale a pena lê-lo), quer se considere isoladamente cada um destes elementos, quer em algum conjunto.
Agora, depois do choque de realidade inicial, acho que posso afirmar com honestidade que estou bem com isso. Primeiro, porque não é natal e eu sempre odiei aqueles filmes.
Mas principalmente porque é meio idiota se sentir especial por conta de uma estatística.
Melhor deixar para se sentir assim quando se merecer de fato. Por exemplo, para os médicos, quando descobrissem a cura do câncer. Para os engenheiros, quando inventassem um meio de construir prédios que não destruísse o ecossistema dos morcegos. Ou, para mim, quando eu conseguir fizer alguma diferença, nem que seja em algo que eu acho chato, como a progressividade efetiva da tributação de renda.
Até lá, nada feito.
E, na boa, como é que ainda tem gente que não gosta de the Big Bang Theory?

17.3.09

justificativas

Eu sei que eu andei ausente. Talvez muito mais do que deveria, porque mesmo quem antes me cobrava para que eu escrevesse mais parece ter desencanado. Pode ser que eu tenha perdido o ponto ótimo dos pouquíssimos leitores que eu achava que tinha cativado. Sei lá.
Não estou falando isso para que venham comentários dizendo que não, estamos aqui, ainda te lemos etc. Estou falando para me justificar, como já fiz outras vezes antes, mas acho que agora é mais sério, porque foi mais tempo e sem a desculpa de estar viajando, de não ter internet e outras que eu andei dando um tanto quanto de má-fé.
A verdade é que eu não tenho escrito porque eu ando muito mais crítica comigo mesma. Eu sei que o auto-criticismo exagerado não vai dar em nada, assim como a história toda do blog não vai dar em nada, mas deixemos isso para lá e não sejamos tão niilistas.
Logicamente, eu continuei recolhendo pedacinhos de coisas que me tocassem e que eu achasse que valiam a pena dividir, mas só hoje, quando a Lê me fez ler o monte de coisas que ela me fez ler, é que me deu vontade de escrever de novo.
Então aqui estamos. Já desisti oficialmente das aulas de amanhã cedo e estou deixando a higiene pessoal de lado um pouco. Só um pouco, eu ainda sou meio obcecada com isso.
Mas chega de falar de mim. Vamos ao que interessa.
Hoje eu estava então lendo as coisas que a Lê me fez ler e a moça lá falava algo que na minha cabeça soou como “fidelidade é um jeito de estar junto quando se está longe”.
E eu fiquei realmente atordoada, porque é simples demais, e não só eu nunca tinha pensado nisso antes, como ninguém nunca tinha me explicado desse jeito. Mas faz todo o sentido.
Foi uma daquelas epifanias de que eu falei há muito tempo, quando o conceito passa a fazer sentido para mim.
Pensei que tem algumas pessoas de quem eu gosto tanto, mas tanto, mas tão louca e idiotamente, que eu quero ter comigo a todo tempo.
Obviamente, não dá.
Então eu sou fiel a elas, não traindo ideais revolucionários que a gente compartilhe, não ouvindo as músicas que elas odiariam, não lendo Capricho, não usando roupas que a gente já tenha combinado que são ridículas; e quando eu vejo algo de que elas gostariam, eu mando um scrap.
Com isso, na minha cabeça, eu as trago para mais perto de mim. Fico pensando que, mesmo se elas souberem de tudo o que eu faço (o que é virtualmente impossível porque eu faço uma quantidade bem razoável de coisas), elas ainda vão me amar porque eu não fiz nada de errado, e pensei nelas o tempo todo, para tudo.
Ow, e pode ser que eu esteja ficando velha, convencida, brega e cheia de manias, mas a paz que dá no coração é um negócio incrível!