30.5.09

dividido em dois

1. agricultores luteranos
Hoje, depois de muito tempo alienada do mundo, eu sentei no sofá com a minha mãe para assistir o Jornal Nacional. Estava passando uma reportagem sobre uma colônia de alemães no interior de um daqueles estados do sul povoados de germânicos e gramíneas, a respeito de como a igreja luterana do local melhorava a vida dos camponeses.
Dentre os benefícios indiretos que a prática do luteranismo promovia por ali (por óbvio tomamos como benefício direto o acolhimento por um Deus um tantinho mais tolerante do que os que seguem o cara lá de Roma, após a chegada da “indesejada das gentes”), foram citados a integração entre os campônios, que se encontravam regularmente por conta do culto, e o aumento na produtividade agrícola por conta de uns cursos que são ministrados no templo.
Estes cursos ensinam técnicas de diversificação das culturas e de plantio livre do uso de agrotóxicos. Reflexos disto são, segundo a reportagem, a quase auto-suficiência dos agricultores em relação aos alimentos necessários à sua subsistência e, em segundo lugar, o aumento do valor de mercado dos produtos por eles cultivados.
No entanto, a matéria fazia questão de ressaltar, o excedente não é, no mais das vezes, exportado para grandes cidades, nem sequer vendido.
O que ocorre com maior frequência é que, depois do culto, cada família leva o que produziu a mais para a praça no centro da cidade, onde monta uma banquinha, e troca. Escambo mesmo.
Nessa altura, me veio à cabeça que esse povo tinha retroagido muito, até a época antes da utilização da moeda.
Só que, vendo como aquilo funcionava direitinho e todos pareciam estar muito felizes, eu acabei pensando que talvez a gente complique tudo mais do que o necessário mesmo e que nem sempre simplificar significa retroceder.
Então me deu vontade de escrever a segunda parte desse post.

2. Bem simplesinho
Me leva pra um lugar quente, porque está frio, mas não muito longe, porque meus pés estão doendo de tanto que eu andei o dia inteiro e para chegar até aqui.
Me abraça para eu não lembrar que o mundo está exigindo mais de mim do que eu posso dar, e ficar segura no esquecimento.
Me conta uma história engraçada que aconteceu com alguém que você conhece, ou de como as grandes cidades estão muito violentas, ou um babado cabuloso. Qualquer coisa, desde que eu não tenha que pensar e possa só te ouvir falar.
Daí, se você me der comida de vez em quando, eu não preciso mais de nada.

17.5.09

Conceição, tem visita pra você

Ontem peguei o metrô na Sé para ir buscar o meu notebook na assistência técnica, que fica na Av. Pedro Bueno, caminho para o aeroporto de Congonhas. Eu tinha que descer na estação Conceição, que é onde eu desci durante quase 20 anos da minha vida, quando eu morava ali pertinho.
Fui pensando que eu conhecia direitinho ali o lugar onde eu estava indo, que eu saberia qual a melhor saída e onde estaria o táxi que eu deveria tomar para ir até lá.
Justamente por isso, eu acho que me espantei tanto quando o trem passou pelo viaduto, de onde dá para ver a rua, logo depois da estação São Judas. Eu tinha esquecido que dava para ver a rua.
Fiquei surpresa quando percebi que fui saindo pelo lado esquerdo e encontrei grades nos painéis com as frases do Fernando Pessoa. Agora a Conceição não gosta mais que as pessoas se sentem nos jardinzinhos.
E a Conceição agora se preocupa com a acessibilidade das pessoas deficientes físicas, porque existe um elevador que as leva do nível da terra até a área de embarque.
Estava tudo diferente, mas não foi por isso que eu não reconheci nada direito e não sabia mais andar por aquelas ruas. Seria meio hipócrita fazer tais afirmações.
A verdade é que, por mais que eu gostasse - e eu gostava - de morar por ali e da vida que eu levava, eu esqueci das coisas de lá.
Das ruas, dos nomes das ruas, do cheiro, da velocidade que eu precisava andar para conseguir atravessar os três semáforos da avenida em seqüência de uma vez só, do restaurante no qual eu nunca comi porque não gostava do nome: “cara feia é fome”. Vai que eu entrasse lá, me empanturrasse de comida e continuasse feia para os padrões restaurantísticos?! Eu ficaria inconsolável para sempre.
Esqueci, simplesmente. Eu achei que aquelas memórias ficariam em mim para sempre, porque fariam parte de quem eu era.
Pelo visto, não faziam. Todas essas coisas que eu nunca me preocupei em gravar porque eu achei que eu nunca esqueceria, agora eu acho que nunca soube, só tinha na cabeça porque vivia todos os dias.
Além do mais, a fachada do prédio onde eu morava mudou, e eu fiquei sem saber se os moradores a reformaram porque eles também mudaram ou se foi para que os outros pensassem que eles são algo que não são na verdade.
Então eu vi que, do ponto de vista da Conceição, agora eu era visita. A gente acha que cria raízes, mas isso é só porque a idéia de que estamos soltos, sem nada que nos prenda a lugar nenhum, assusta muito.
Ser adulto assusta muito mesmo.

9.5.09

Dói um pouco perceber
que eu andei por tantos lugares,
tentei me reinventar de tantas formas,
li vários livros e assisti tanto quanto eu consegui sem cair no sono,

e, mesmo assim, estou aqui agora,
detentora dos mesmos medos,
desejando as mesmas coisas,
amando basicamente as mesmas pessoas,
com as mesmas esperanças,
e decepcionando um pouco os leitores deste blog que vêm aqui procurando respostas...

Porque ultimamente eu ando cheia de perguntas.

Mas a conclusão a que eu cheguei é que talvez, só talvez, não seja assim tão mau ser eu mesma... e eu até que gosto...

Ruim mesmo é esse pseudo-lirismo. Em breve, haverá um post melhor. Prometo.