18.2.09

O legado de Stella

Outro dia eu conheci aqui em Roma uma menina chamada Stella, ou Stela, ou Estela, eu não sei direito, mas acho Stella - com s mudo e dois éles mais a cara dela.À primeira vista, ela não parecia ser nada demais, e, para ser sincera, a minha análise também nunca passou disso. Antes de começar a falar mal, tenho que dizer que o fato de o nome dela significar "estrela" é sempre uma coisa boa.Agora, por mais que eu não goste de rotular, ela me pareceu aquele tipo de pessoa que não faz questão alguma de ser agradável, provavelmente por acreditar que a sua presença no recinto, por si só, já é benção maior do que poderiam desejar os reles mortais que com ela ali conviviam.
Durante o pouco tempo em que convivemos, só que ela fez foi identificar e apontar os pecados capitais cometidos pelos seus interlocutores, em situações como a seguinte: interlocutor: "estou muito sem grana, não ia pagar 16 euros para entrar nesse museu" - Stella: "avareza é um pecado capital, sabia?", o que me fez bastante certa de que eu não quereria jamais conviver com ela no país onde ambas nascemos.
Chegado este ponto, porém, a pergunta que provavelmente não quererá calar é: então por que escrever um post sobre a menina?E a resposta é a seguinte: Stella veio para comprovar uma idéia que eu já tenho há muito tempo, mas sobre a qual eu não tinha escrito ainda por falta de elementos para desenvolvê-la, qual seja, o fato de que cada um que a gente conhece nos modifica de alguma forma. Ou, traduzindo em frase de almofada da Imaginarium, "cada um que passa pela nossa vida deixa algo de si e leva algo de nós".
O que Stella me deixou foi a preconceituosa, mas nem por isso menos genial frase por ela proferida "se ema é bicho, emo é bicha", que eu guardei na memória e pretendo incorporar ao meu repertório quando a ocasião assim o permitir.
O que ela levou de mim, eu não sei. Se eu tivesse que chutar, eu diria: más impressões, por conta da ironia que regeu o meu comportamento no que diz respeito a ela durante toda a nossa interação.
Para uma resposta mais precisa, no entanto, conviria perguntá-la diretamente. Isto pode vir a ser um pouco complicado, uma vez que - dado o diminutíssimo interesse por ela despertado em mim - eu não fiquei com nenhum contato dela (orkut, facebook, msn, email, telefone... nada).No entanto, não deverá ser difícil reconhecê-la, caso cruzem com ela: morena de pele e de cabelo, olhos castanhos, estatura mediana, usa uma pequena pochete por debaixo das roupas e da pele, fala mole, vive no Rio de Janeiro, mas é de Três Pontas.
E aí, se alguém a vir, por favor aproveite para perguntar qual é a grafia correta do nome dela.

12.2.09

momentos-chave

Ontem à noite, antes de dormir, eu me peguei pensando no quanto a nossa vida é cheia de momentos-chave. Eu sei que pode parecer um discurso motivacional ("este é o momento-chave, a oportunidade que você não pode perder para ascender na carreira e ter a realização profissional com que sempre sonhou" blá blá), mas a minha idéia não é nem um pouco essa.
Para mim, um momento-chave é aquele no qual a pessoa se vê tendo de tomar uma decisão que afeta o curso da sua história, seja positiva ou negativamente.
É aquela situação em relação à qual, tempos depois, o indivíduo em dúvida vai repensar se fez a escolha certa, ou vai se questionar a respeito do que poderia ter acontecido - para melhor ou para pior - caso tivesse optado pela outra alternativa, já então descartada.
Ao fim, a pessoa acaba sempre decidindo que escolheu certo, mesmo que seja só para se consolar diante do erro óbvio, creio eu.
Mas como eu dia dizendo, ontem à noite, antes de dormir, eu percebi que existem muitos desses na vida. Por exemplo, eu ganhei dois brincos no natal, um dourado, da minha avó, e um prateado, da minha tia. E trouxe os dois na viagem.
Quando em cheguei em Luxemburgo, e já lá se vão algo como 4 semanas, percebi que eu tinha perdido a tarracha do meu brinco dourado, que a minha avó me deu.
Com certeza, aquela tarracha estava no trem, porque eu me lembro de ter entrado lá com ela. E eu dei uma procuradinha, mas acabei deixando de lado, porque eu queria conhecer a cidade e estava com um pouco de medo da coisa toda sair andando e eu acabar numa garagem de trens no meio do nada.
O que eu consegui com isso foi inviabilizar o uso daquele brinco, porque eu acabei por largá-lo no fundo da minha bolsa que, sujeita às mesmas intempéries que eu, molhou-se, nevou-se, secou-se e tudo o mais.
Daí o brinco estragou. Enferrujou uma parte e quebrou a outra. Dá, claro que dá para culpar a questionabilíssima qualidade do acessório, mas a verdade é que se eu - naquele trem em Luxemburgo - tivesse me dedicado mais a achar a tal tarracha, eu não teria estragado o brinco dourado que a minha avó me deu.
E eu sinto falta dele, porque, apesar de ordinário, ele era bonito... e, afinal, foi a minha avó que me deu. Então eu pensei que agora já não adiantava mais, que essa tarracha já teria sido varrida para um lixão ou estaria em Luxemburgo, quiçá na França, ou ainda em qualquer outro país por onde aquele um vagão daquele determinado trem pudesse estar passando e agora, mesmo se eu pudesse voltar lá - o que eu também não posso - seria impossível achá-la.
Cheguei à conclusão de que eu tomei a decisão errada naquele momento-chave.
E sim, era só da tarracha do brinco que eu queria falar o tempo todo.