26.7.09

responsabilidade ambiental

Certo dia, há muito tempo, em outra era, eu fui visitar uma pessoa e ganhei uma muda de árvore. Algum daqueles projetos do tipo "cada um de nós, se plantarmos uma árvore pequena, podemos fazer a diferença" no aquecimento global, desmatamento, e todos esses assuntos que povoam a mente de quem tem essas falsas preocupações mas não reduz o tempo do banho nem separa o lixo.
E eu, que gosto de plantas, trouxe a muda para casa, toda contente. Fui mostrar para o meu avô japonês, que também gostava muito de plantas, pensando que aquilo poderia ser uma coisa boa para nós dois, a nossa planta, já que ele estava doente, e iria morrer em algum momento num futuro próximo, como de fato acabou acontecendo.
Fato foi que eu vim no caminho pensando que eu iria plantar aquela árvore, e ela iria crescer, e eu teria sempre alguma lembrança viva dele, porque, enfim, era uma muda cheia de perspectiva.
Quando eu cheguei - para os mais desavisados, ele morava no apartamento em cima do meu - fui correndo para a casa dele conversar sobre aquilo, munida da arvorezinha e de muitos planos.
E tomei uma bronca cabulosa. Uma coisa ridícula. Ele nunca brigava comigo, e eu estou exagerando ao dizer que foi uma super bronca, óbvio. Mas eu estava tão empolgada com aquilo, com tudo o que eu tinha planejado para aquele pedaço de verde lá, que o simples fato de ele não abraçar o projeto me deixou com a cara no chão.
O que ele me disse foi que eu não poderia ter aceitado aquela muda se eu não tinha como dar a ela condições para que ela se desenvolvesse e virasse a árvore que ela tinha que ser. Eu tentei argumentar, dizendo que ninguém que tinha recebido aqueles brindes estava pensando nisso, mas ele foi irrefutável em afirmar que eu tinha que ter pensado. Era de responsabilidade que ele estava falando.
Aquilo me marcou muito porque, embora eu pensasse que estava fazendo algo de bom para a planta, para o mundo, para o meu coração, ele me mostrou que era uma super bobagem. Ele viu que o que iria acontecer com certeza seria que eu ia deixar a planta na casa dele e ele iria cuidar, e depois quando ele não estivesse mais por aqui, eu ia me sentir totalmente legitimada para pegar a planta e deixá-la morrer sem o necessário cuidado na minha própria casa, onde, diga-se de passagem, ele plantou flores lindas por toda a sacada. É que eu realmente não cuido muito bem das minhas plantas.
Mas o ponto é que ele não precisava disso, dessa preocupação. E eu também vi que não preciso de nada assim para lembrar.
Agora, acho que o raciocínio se aplica também a este blog. Quando eu o criei, eu tinha muitas idéias, achava que tinha muito a dizer. No entanto, vi agora que fazia mais de um mês que eu não postava nada, a despeito de ter tido boas idéias neste meio tempo e de ter tido vontade de escrever. Por isso, escrevo agora - por que não dizê-lo? - por pura obrigação, para que este blog não seja abandonado, pelo menos não por mim, como a planta da história. Eu também achei que este seria um espaço livre, de livre manifestação dos meus pensamentos, mas acaba que as coisas não são bem assim.
Em tom de desabafo, devo dizer que acho que tem um pouco a ver com o meu método, porque eu escrevo no word, releio, passo para o blog, releio, publico, releio. Sempre tem errinhos, tenho que reler mil vezes. Isso dá muita preguiça. Outro dia, cheguei a abrir o word para escrever, mas desisti pensando no processo todo.
Então eu abandonei aquelas amarras e estou escrevendo assim, como se eu fosse boa mesmo nisso e não tivesse que ficar limando o texto. E vou tentar reler o mínimo possível. Até porque querer guardar estes textos, agora eu vejo, não faz sentido algum.
Para ser totalmente sincera, também escrevo porque fez dois anos que o Di morreu, e eu andei tão feliz nos últimos tempos que quem visse poderia pensar que eu não sinto a falta dele. Errado. Todos os dias eu penso que não posso esquecer certas coisas, como a história da árvore e tantas outras que, com o tempo, alguma sorte e um pouco menos de pieguice, eu espero poder contar.
E hoje eu dei uma passadinha ali na minha sacada. Vi que, mesmo no inverno, tudo ali floresceu.
E eu tenho certeza que foi por causa dele.