17.5.09

Conceição, tem visita pra você

Ontem peguei o metrô na Sé para ir buscar o meu notebook na assistência técnica, que fica na Av. Pedro Bueno, caminho para o aeroporto de Congonhas. Eu tinha que descer na estação Conceição, que é onde eu desci durante quase 20 anos da minha vida, quando eu morava ali pertinho.
Fui pensando que eu conhecia direitinho ali o lugar onde eu estava indo, que eu saberia qual a melhor saída e onde estaria o táxi que eu deveria tomar para ir até lá.
Justamente por isso, eu acho que me espantei tanto quando o trem passou pelo viaduto, de onde dá para ver a rua, logo depois da estação São Judas. Eu tinha esquecido que dava para ver a rua.
Fiquei surpresa quando percebi que fui saindo pelo lado esquerdo e encontrei grades nos painéis com as frases do Fernando Pessoa. Agora a Conceição não gosta mais que as pessoas se sentem nos jardinzinhos.
E a Conceição agora se preocupa com a acessibilidade das pessoas deficientes físicas, porque existe um elevador que as leva do nível da terra até a área de embarque.
Estava tudo diferente, mas não foi por isso que eu não reconheci nada direito e não sabia mais andar por aquelas ruas. Seria meio hipócrita fazer tais afirmações.
A verdade é que, por mais que eu gostasse - e eu gostava - de morar por ali e da vida que eu levava, eu esqueci das coisas de lá.
Das ruas, dos nomes das ruas, do cheiro, da velocidade que eu precisava andar para conseguir atravessar os três semáforos da avenida em seqüência de uma vez só, do restaurante no qual eu nunca comi porque não gostava do nome: “cara feia é fome”. Vai que eu entrasse lá, me empanturrasse de comida e continuasse feia para os padrões restaurantísticos?! Eu ficaria inconsolável para sempre.
Esqueci, simplesmente. Eu achei que aquelas memórias ficariam em mim para sempre, porque fariam parte de quem eu era.
Pelo visto, não faziam. Todas essas coisas que eu nunca me preocupei em gravar porque eu achei que eu nunca esqueceria, agora eu acho que nunca soube, só tinha na cabeça porque vivia todos os dias.
Além do mais, a fachada do prédio onde eu morava mudou, e eu fiquei sem saber se os moradores a reformaram porque eles também mudaram ou se foi para que os outros pensassem que eles são algo que não são na verdade.
Então eu vi que, do ponto de vista da Conceição, agora eu era visita. A gente acha que cria raízes, mas isso é só porque a idéia de que estamos soltos, sem nada que nos prenda a lugar nenhum, assusta muito.
Ser adulto assusta muito mesmo.

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