11.11.08

Contra o imediatismo cego

Ontem eu amanheci doentona. Assim, ferrada mesmo. Dor por tudo que não queria saber de passar, e nenhuma disposição para fazer nada nessa vida.
Sim, eu já estou melhor, obrigada. Mas sei que não preciso ficar dizendo que esta experiência me fez refletir pacas e pensar em mil coisas legais que eu poderia escrever aqui, porque não é verdade.
Eu passei bastante tempo em casa nestes últimos dias, e li muito, porém nem por isso eu tive qualquer grande inspiração. Desde ontem, nada me tocou, nada me abalou, nada me deu vontade de escrever. E eu nem acho que isso seja ruim.
Daí agora eu estava aqui sentada de bobeira, e me veio uma letra de música do Snow Patrol à cabeça. Não, nem sempre elas contêm em si uma luz no fim do túnel, e essa diz “life is way too short to scream and shout”.
Isso me deixou um pouco irritada. Esse é o tipo de frase que você espera ouvir em bom baianês nas músicas dos Inimigos da HP ou da Banda Eva. Nenhum problema com eles, todo mundo os ouve, tanto que eu sequer vou me dar ao trabalho de negar.
O problema com esse gênero de música é que às vezes eles saem da temática sobre a alegria da capital baiana e como a vida pode ser boa durante as festividades carnavalescas para tentar se imiscuir nas questões do amor e seus correlatos da auto-ajuda e do aconselhamento. E daí eles falham feio.
Porque é simplesmente impossível a pessoa se contentar com a pouquíssima complexidade de músicas que reduzem todo o sentimento às sensações compartilhadas durante o sexo (ou antes ou depois), por mais fácil que seja confundir tesão com amor. E assim, é muito mais fácil do que eu gostaria que fosse. Então, sexo é legal pacas e tudo, mas não é amor, ainda que partes de mim desejassem que de fato fosse simples assim.
Voltando ao problema da simplicidade, estamos acostumados a ouvir chavões como “hoje eu só quero é beijar, beijar”, “é dia de festa” e vários outros, pregando a filosofia de aproveitar o dia loucamente, sem levar mais nada em consideração.
Não vou entrar no mérito do porquê destas músicas tratarem disto, com tanta freqüência e fazendo tanto sucesso, pois eu sei que não conseguiria fazê-lo sem soar preconceituosa. Estou querendo evitar.
Mas confesso que fiquei chocada quando ouvi o Snow Patrol - aquela banda inglesa que tem músicas lindas - pregando a mesmíssima coisa.
Assim, essa coisa do carpe diem nunca me convenceu, e isso de ter que viver cada dia como se fosse o último, pelamordedeus! Que pressão absurda!
Pelos idos de 1999, anunciaram que uma profecia do Nostradamus dava conta de que um asteróide cairia sobre a Terra no dia XI.8 (ehe) daquele ano, acabando com a vida como a conhecemos. Na época, eu me lembro que rolou uma grande pesquisa a respeito do que as pessoas fariam nos últimos dias de vida e tal.
E, como sói acontecer, teve todo tipo de resposta, desde quem torraria loucamente todo o dinheiro até quem se retiraria num acampamento holístico.
A conclusão a que eu cheguei, já naquela ocasião, foi a de que, se o mundo for de fato acabar, ninguém pode saber. Caso contrário, todos seríamos confrontados com uma situação de caos absoluto (porque eu é que não ia ficar escrevendo petição no último dia da minha vida enquanto você, caríssimo leitor, estivesse na praia) antes mesmo da grande destruição. Da mesma forma, não seria exigível fazer frentistas trabalharem, nem professores, nem prostitutas, porque afinal seria o último dia deles também.
A mesma idéia se aplica para a tão apregoada filosofia de viver cada dia como se fosse o último. Se todos a adotassem, não haveria meios de se conviver em sociedade. Então torçamos para que tudo não passe de rimas.
E sobre a minha indignação com o Snow Patrol, eu resolvi analisar melhor a letra da música, e verifiquei que, no caso deles, o sujeito está de fato na iminência da morte. Então tudo bem. Ufa!
A última observação que eu tenho a fazer é a de que, por mais bonita que possa parecer a idéia de levar a vida como se não houvesse amanhã, ela tem duas falhas: 1. E se aquilo que você anda esperando que aconteça estiver programado para depois de amanhã. E aí? 2. A chance de seu(s) último(s) dia(s) ser(em) como o meu de ontem - de cama, com dor - é muito maior do que a de ser(em) dia(s) ensolarado(s) da aurora da sua vida.
Portanto, carpe diem.

1 comment:

Unknown said...

ah c/ ctza carpe diem eh algo mto exagerado...e burro...se fosse levado ao pé da letra
mas acho q é mais um princípio a ser buscado, pq mtas vezes todos nós, algums pessoas em geral, começam a viver uma vida em q tudo fazem por obrigação, para evitar consequências desagradáveis ou buscando um prêmio futuro, e esquecem de viver a vida, de fazer coisas legais, de arriscar, enfim...