20.11.08

sobre as escolhas fáceis

Hoje eu li uma reportagem sobre como as fêmeas de macaco se comunicam até 13 vezes mais entre si do que os machos. Na hora que eu vi a manchete, eu pensei em tiozões que se acham engraçadões dizendo “tá vendo? Até as macacas são fofoqueiras... é do gênero feminino!” (ok, eles jamais diriam nestes termos, mas eu precisava sintetizar a idéia)
Na verdade, elas se comunicam mais para estabelecer estruturas sociais mais sólidas, que viabilizam a convivência em grupos como os que os macacos formam, mesmo porque os machos tendem a mudar de bando, enquanto as fêmeas sempre ficam no mesmo, sendo responsáveis pela criação dos descendentes.
O que isso me fez pensar é que, às vezes, as pessoas simplesmente encontram soluções mais fáceis para determinadas situações que se apresentam, ao invés de investir algum tempo e dedicação na busca de melhores ou mais adequadas respostas (no caso: mulheres são fêmeas/macacas são fêmeas. Mulheres são fofoqueiras. Logo, macacas fêmeas são fofoqueiras).
Por exemplo, outro dia eu estava conversando com a Carol sobre uma novela que passou há vários anos e que a gente assistia. Era uma novela das oito e, portanto, tinha que conter certas cenas de sexo, ou, pelo menos, de insinuação de sexo. O que fez o autor então? Inseriu ali uma personagem ninfomaníaca! Vejam só... assim ele não teria que se preocupar em ficar inventando situações esdrúxulas em que o mocinho encontra a mocinha caminhando na praia e o amor fulmina, o desejo arde e eles transam. Não! Cada vez que a audiência começasse a cair, a mulher tinha um surto e dava loucamente para o marido. Simples assim.
De outro lado, naquele romance Ramsés, o faraó que dá nome ao livro é completamente apaixonado pela sua esposa, Nefertari. Mas também, pudera. A mulher é maravilhosa, simplesmente irresistível, e o amor dos dois é perfeito, porque é impossível não amá-la, e ele se rende aos infinitos encantos dela. Assim, poderia o autor ter escrito sobre uma relação de conveniência, jogos de poder, e de convivência difícil de um homem com o maior ego do mundo (o cara era um deus vivo) com uma mulher provavelmente muito vazia e superficial, que acordava mal arrumada e só se interessava por riqueza? Poderia, mas não escreveu.
Por fim (né?), o Rei Leão. Eu não queria ter que falar mal dele não, mas assim... a Disney fazer um filhote de leão entrar numa crise existencial, por mais profunda que seja, é quase uma palhaçada. Porque, em se tratando de Disney, é óbvio que o bicho estaria fadado a superar quaisquer conflitos interiores que o afligissem. E quando ele se encontra, o que ele é? Uma cigarra? Um porco-espinho? Um peixe bioluminescente? Não! Ele é um leão, o rei dos animais. Quer mais fácil que isso? Queria ver uma tênia se descobrindo enquanto tênia e ainda assim sendo feliz...
Pensei bastante em qual seria a explicação para essas escolhas fáceis que alguns autores (em maior número do que eu gostaria) fazem. A única que eu consegui foi: porque eles escrevem por obrigação, têm prazos a cumprir e têm que agradar (e, no fim, até sabem agradar).
Só que essa minha resposta é simplória, e acaba caindo exatamente no erro que eu venho condenando neste post inteiro, já que todo mundo que escreve, escreve por obrigação.
Não obrigação no sentido legal do termo, de uma prestação devida. Obrigação no sentido mais lato que pode ter, ou seja, porque não tem opção.
Lógico, eu poderia sair para correr, se a idéia fosse liberar a mente desses pensamentos, jogar meu celular no chão, se o intuito fosse liberar a raiva, ou chorar até secar, para aliviar eventual tristeza.
Mas não basta. Nada disso basta.
Então eu escrevo.

2 comments:

Unknown said...

Uma tenia não se descobriria como tenia...ela ia achar que é rainha do intestino...ou qquer coisa assim...Eu voltei com uma mulher no onibus hj que passou 4 horas e MEIA falando dela, td mundo no fim se descobre o rei leão!

Unknown said...

sobre escolhas, toda vez q eu tenho um dilema ético, meio q conclui q a solução mais difícil/dolorosa pra eu cumprir é geralmente a correta...huahuahua