3.12.08

do porquê eu gosto de porcos

Outro dia, eu ouvi, um pouco em tom de crítica, que este blog às vezes é escrito em juridiquês. Acho que isso se justifica, porque eu faço direito e isso representa boa parte da minha vida e de quem eu sou.
Por isso, nada obstante a observação, resolvi trazer um conceito de Introdução ao Estudo do Direito lá do primeiro ano para explicar a história dos porcos.
Segundo o Tercio, o homem é “um feixe de papéis sociais”. Cada um de nós é, ao mesmo tempo, irmão, filho, sobrinho, neto, amigo, aluno, colega, e tantas outras posições sociais, em relação aos outros.
Óbvio que não dá para ser todas elas ao mesmo tempo, do ponto de vista de uma mesma pessoa. Então, segundo o Tercio, a soma destas posições sociais é o que te define. (Posso estar falando bobagem. Se eu estiver, não me corrijam porque eu preciso dessa premissa para firmar o meu ponto.)
E eu concordo com ele, em certa medida. A maioria das relações que a gente desenvolve em sociedade leva em conta somente um determinado aspecto da personalidade do outro.
Por exemplo, outro dia rolou um boato de que o Del Nero, nosso professor de direito civil, é alcoólatra, junkie, que ele sai dos bares carregado, que envergonha os filhos e tal. Além de altamente improvável, tendo em vista que o cara é a própria imagem do bonus paterfamilias, isso não me diz respeito, nem me interessa, absolutamente.
Para mim não importa se ele é alcoólatra, cocainômalo, ninfomaníaco. Ele é meu professor, e, como tal, ele é bom, apesar de sugar todas as minhas energias com as suas aulas intermináveis, que eu meio que parei de assistir. Se eu começasse a me relacionar com ele em outros níveis, sendo, digamos, amiga dele, eu teria que me preocupar com as bebedeiras. Mas eu não quero, e não preciso.
Ou então, tem uma menina na sala que tem nome de anjo e se veste muito mal. Gente, muito mal mesmo. Só que ela é só minha colega de classe e eu nem falo com ela. Se ela passasse a ser minha amiga, eu ia ter que parar para pensar se dava uma dicas para ela ou se não me importaria em ser vista ao seu lado. Do jeito que as coisas estão, porém, nada disso faz diferença.
O que eu estou querendo dizer é que é bom, quiçá ótimo, que seja assim. Até porque, nestes 22 anos, foram poucas as pessoas que eu me dei ao trabalho de conhecer a fundo, além dos papéis sociais que elas desempenhavam.
E, tirando aquelas cuja permanência não é opcional (tipo a minha mãe), a tendência tem sido elas saírem da minha vida depois disso. As que ficaram, foi na base de não pouca pancadaria. Muito amor, mas porrada também.
Não quero com isso defender o terrível ditado popular de que “a ignorância é uma bênção”, porque eu realmente não acho isso. Tenho para mim que, se a intenção for reduzir o problema a uma frase feita, a que mais se aplica é “a intimidade é uma merda”.
Agora, a mesma idéia serve para o problema dos porcos, tema deste post. Quem me conhece, já veio na minha casa, já passou pelo escritório ou já me viu mexendo na minha bolsa, sabe que eu adoro porquinhos.
E, em geral, quando eu falo disso, as pessoas perguntam: “mas por que porcos? Você sabe que eles fedem, né?”
Sim, eu sei que eles fedem, que eles chafurdam na lama - que muitas vezes contém resíduos dos seus próprios excretas -, que eles comem qualquer coisa (e imaginem o que não é “qualquer coisa” depois de todo o processo digestivo - e eles chafurdam nisso), que eles ficam do tamanho de monstros e daí não tem quem segure.
Eu sei. Mas não faz diferença, porque os meus são bonitinhos, fofinhos e quando eu os vejo ou os abraço, me dá uma sensação de paz e alegria interior que só eles trazem.
Bom, mas daí haverá quem novamente questione a escolha por porcos, já que ursos-ursos, ursos pandas, hipopótamos e vacas também são animais que, na vida real, não têm glamour algum e, quando são transformados em pelúcias ficam txutxucos.
Daí, a única explicação que eu tenho para dar é que os meus porquinhos são rosas.

1 comment:

denisard said...

PUTAQUEPARIU!
Tinha que citar logo IED, matéria que abordou justamente esse feixe de papéis na prova (que me fodeu!) e toda essa masturbação mental que me faz não ir às aulas?

Ps:. Até que você poderia dar aula de IED, adorei sua abordagem! Deu uma roupagem nova, despertou até meu interesse. Acho que vou dar uma olhada no Tércio...