9.12.08

eu tenho medo do infinito

Não sei exatamente quão covarde a pessoa se torna ao admitir uma coisa dessas, mas fato é que eu tenho medo do infinito.
Percebi isso semana passada, quando eu estava sobrecarregada com provas e problemas de toda ordem me assombrando. Numa tarde, depois de sair do escritório mais cedo para estudar para o dia seguinte, eu estava simplesmente tão desesperada que fiquei com vontade de entrar na catedral da Sé (que estava ali do lado) e pedir para alguém resolver tudo por mim.
Pensando a respeito deste meu surtinho, eu lembrei que existe um trecho de uma música em que o cara descreve a situação em que ele se encontra - desesperado, na chuva, que depois vira enchente - como um “accident of faith and nature”.
Ora, é fácil entender porque uma chuva destruidora, que arrase casas, plantações, pessoas, estradas e tudo o que vê pela frente, seja considerada um acidente da natureza.
Agora, para ser sincera, eu não tinha entendido o conceito de acidente da fé até me acontecer de eu querer entrar na igreja nesse dia aí que eu falei. Explico. Acho que todo mundo já passou por uma situação em que está tudo tão complicado que, mesmo não acreditando em Deus, ou em destino, ou na sorte, tudo o que se quer é que uma oração resolva.
Só que eu não entrei aquele dia, porque eu não acredito que exista alguém que possa resolver os problemas que eu criei, ou aqueles nos quais eu me meti, ou que vá gritar bem alto de cima de uma nuvem - de modo a que eu possa ouvir - as respostas da minha prova de direito tributário. Foi só um acidente, um ato falho, causado pelo meu desespero, pensar que as soluções poderiam vir fáceis assim.
É como a história do choro, n’A Cidade dos Anjos. Eu nem gosto desse filme (pronto, falei!), mas acho boa a idéia. Segundo o Nicholas Cage, a gente chora quando uma emoção que se sente não cabe no corpo, e esse é o nosso meio de extravasar, colocar para fora.
Foi assim com aqueles meus problemas. Se Deus existisse e fosse esse grande assistente social que muita gente espera, eu teria dado tudo o que me perturbava para ele resolver naquele momento.
Dentro desta linha, eu comecei a pensar que, obviamente, Deus não está aí para resolver as confusões em que a gente se mete, simplesmente porque, se fosse possível fazer com que Ele lidasse com isso ao invés de nós, o engenho humano já teria dado um jeito de operacionalizar a transmissão.
Depois, eu pensei que tem aquela história da vida eterna. A gente se ferra um pouco por aqui, mas, morrendo, a alma vai para o paraíso ou para o inferno, “viver” eternamente.
Talvez (a primeira conclusão a que chegará o caro leitor) eu tenha medo do infinito porque é mais provável que eu arda em chamas do que que eu desfrute da paz eterna ao lado do Senhor.
Porém, eu, aqui, na minha infinita arrogância, acho que não é só por isso não. Tem mais.
Isso de “para sempre” há de ser muito chato. Para que fosse divertido, dependeria da existência de infinitas formas de diversão, o que eu não sei se é possível. E da ausência de cansaço, fome, sono. Também não poderia haver suor nem quinas onde a gente batesse dedinhos ou canelas, porque esse é o tipo de coisa capaz de arruinar tudo, principalmente quando o tempo não conta.
Então eu cheguei à conclusão de que eu prefiro lidar com a minha própria finitude. Afinal, se pá esta vida contém espaço e tempo suficientes para eu plantar minhas idéias, cuidar dos meus amigos (no meu caso, ser cuidada por eles), abraçar o que for fofo, rir do que for engraçado, chorar bobamente, enfim... fazer tudo o que eu achar que preciso.
E, se eu estiver certa, então para que eu preciso de uma vida eterna? Para lembrar ou para ter mais do mesmo? Porque qualquer destas opções me desagrada, muitíssimo.
E acho que é por isso que eu não acredito em Deus. As propostas dEle são fracas para mim. Eu tenho um problema com a eternidade.

2 comments:

André Rainho said...

se pá é por isso que quando vc tem 10 anos e fica três meses de férias - o que, convenhamos, pra quem viveu só 10 anos, é tempo pra porra -, no fim, vc até já está considerando boa a idéia de voltar às aulas...

nega, parabéns mesmo, já tenho meu post favorito

um beijão, estou com saudades!!

denisard said...

Quando li o títilo logo pensei que falaria da infinitude do universo, do buraco negro! Isso sim me dá uma aflição absurda, não sei se a eternidade me seria um problema...
;)