22.12.08

por enquanto

Eu andei meio ausente daqui, e isso tem me incomodado um pouco. Mas eu tenho uma boa explicação: essa semana, lendo o livro do Cortázar que eu ganhei, eu vi que ele escreveu sobre um tema que eu já tinha postado, só que muito, infinitamente melhor do que eu.
E é a segunda vez que isso acontece, o que me deixou muito revoltada (a outra vez foi com o Ivan Lessa). Lógico que eu sei que eu não estou nem perto de sequer poder me comparar a nenhum dos dois - e isso não é falsa modéstia, lembrem-se que este é um blog que não respeita as convenções sociais desnecessárias - mas desincentiva, porque, poxa, eu tava dando tudo de si!
De todo modo, hoje eu estava aqui pensando e, a despeito de eu não gostar de usar este meio para falar de mim, não vou ter como escapar, já que decidi escrever, rasamente e sem nenhuma pretensão de esgotar o assunto, sobre amizade.
Na verdade, mais especificamente sobre a idéia do “melhor amigo”. Andei aqui refletindo que, ao longo destes 22 anos de minha existência na Terra, eu já chamei mais de uma pessoa de minha melhor amiga (amiga concordando com pessoa, ok?), mas acho que isso meio que contraria o próprio conceito tal como o concebemos, não?
Digo isso porque, quando eu era mais nova, eu tinha aquela ilusão ingênua de que eu ia encontrar uma pessoa que fosse uma espécie de minha cara-metade da amizade: que me escutasse, me entendesse, me apoiasse sem reservas, que dissesse o quanto eu sou legal e estou sempre certa, que me achasse linda e não visse defeito algum em mim.
Guess what? Noooot!
Ocorreu que, à medida que o tempo foi passando, eu percebi que, mesmo se o indivíduo acima descrito existisse, eu não ia querer estar perto dele, porque haveria de ser realmente muito chato.
Então, o meu conceito de melhor amigo mudou, com o quê eu me sinto verdadeiramente feliz, porque eu posso encaixar a maioria da gente não-família com quem eu convivo nele.
Finalmente eu estou num ponto da minha vida em que eu não preciso conviver com ninguém que me desagrade, já que eu deixei estas minhas amarras nalgum lugar no começo desse ano, e, francamente, ando melhor sem elas.
Voltando, acho que o amigo deve ser considerado “melhor” não pelo que ele faz por mim, mas pelo que ele é, no sentido de “mais bom”, ou melhor do que eu, detentor de qualidades que faltam em mim, mas que são indispensáveis para o muuundo.
Não vos enganeis. Nenhum amigo meu é super bom samaritano, mas cada um tem em si algo que me falta, alguma(s) característica(s) em que se destaca.
E, se teve uma coisa boa de ter ficado mais velha (não teve, mas atitude positiva é tudo nessa vida) foi que eu consegui enxergar que estas qualidades não tornam as pessoas perfeitas, mas sim seres humanos cuja convivência me é quase que vital, por quem eu nutro profundos respeito, admiração e agradecimento.
Deve ser por isso que eu não estou com medo de ir para a Europa, porque as minhas relações também amadureceram desde a época em que eu tinha aquela idéia xarope de melhor amigo. Agora eu sei que posso passar dois meses fora, que quando eu voltar (ressalvadas as merdas que sempre podem acontecer no caminho), eles estarão aí.
Dentro ainda do mesmo assunto, correndo o risco plenamente aceitável que a idade me permite, tem o aspecto da duração da melhor amizade. Outro dia eu estava fazendo chantagem com a Camila, porque eu queria que ela viesse com o pai dela me dar carona até em casa, e ela estava com preguiça. Daí eu perguntei: “mas Mimi... e o amor?”, a que ela prontamente respondeu: “o amor... está para sempre guardado no coração”.
Isto me levou a pensar a respeito da história do para sempre. Creio poder afirmar com alguma certeza que eu deixei bem clara a minha resistência à eternidade alguns posts atrás.
Só que hoje me veio na cabeça, ainda como um pensamento bem imaturo, que pode ser que o Renato Russo tenha se enganado ao afirmar que “o pra sempre sempre acaba”.
Começou dia desses, com a Má me falando que, quando ouvia a música que nomeia o post, sempre pensava em mim (e a recíproca é verdadeira). A causa imediata disto é o fato de ela ter me dado uma camiseta uma vez que tem estampada a frase “quando penso em alguém, só penso em você”, e a causa mediata, obviamente, são anos de história.
E a nossa convivência intensiva dos últimos dias, aliada a mil outros fatores, como o retorno de outros amigos para a minha vida e a surpreendente capacidade de me manter perto de quem está muito longe, verificada nos últimos meses, me fez entender que não é que o para sempre acaba.
É que, às vezes, as pessoas se afastam, te deixando com a nítida sensação de que acabou. Mas se pá tem uns “para sempres” que - ainda bem - são para sempre mesmo. Eles só estão te enganandinho, querendo te passar a perna.
Pobre Renato Russo, não viveu tempo o suficiente para ver isso, ou não tinha os amigos que eu tenho.
Ah, estava quase esquecendo... do ponto de vista deste blog, convém mencionar, meus amigos são absolutamente indispensáveis. Eles me inspiram (ok, não é grande coisa, mas é tudo o que eu tenho para oferecer).
Tenho também que dizer que o Renato Russo não errou em tudo na música. Ele está certo quando diz que “estamos indo de volta para casa”. Nos últimos tempos, eu tenho sentido com muita intensidade que meus amigos são a minha casa que eu escolhi.
Assim, vou levar uma junto para dividir comigo a árdua tarefa de me aturar durante a viagem, mas deixo os outros amigos aqui, guardados para sempre no coração, porque, afinal, minha afilhada sabe das coisas.

2 comments:

Unknown said...

Como esse aqui é o meu primeiro comentário neste blog - mas não o primeiro post lido - seria bom eu me apresentar, afinal, é um jeito de vc traçar o perfil dos seus leitores né. Eu sou o Victor, irmão do André e, dada a indolência dele de postar alguma coisa nova, eu resolvi, ha algumas semanas talvez, acompanhar o seu blog, cuja dona eu suponho ser a Gabi (senão, desculpa, mas eu vou continuar a escrever). Não estranhe o modo de escrever formal demais, mas é que quando eu fico mto a vontade eu só escrevo bosta, como vc ja deve ter visto nos comentários do Tongueira no blog do andré.
Eu resolvi comentar porque acho q vc escreve muito bem, muuuito bem msmo. Vc fala sobre assuntos razoavelmente complexos de uma forma prática e precisa e faz ogros como eu pensar de forma mais "aberta". É uma prova de que o vocabulário de um bom texto nem sempre precisa ter aquele preciosismo irritante que muitos apóiam.
Como eu to em epoca de vestibulares, nao garanto comentário em todo post. Nem sempre dá pra entrar na Internet neh. Mas sempre q possivel passarei aqui pra ler o q tem a dizer e aproveito pra ver o q o andré postou. O comentário ficou sério demais, nao tem nada a ver comigo, mas pelo menos traduz o que eu penso. Resumindo: seu blog ta bem loco! (um pouco mais espontaneo)

bjo e boas festas!

denisard said...

Own, que legal o que o Victor, irmão do André (né isso?), falou.
Vou pegar carona no post dele: eu acompanho sempre o blog, leu tudo e, claro, adoro. Nem sempre faço comentário, mas em seguida penso: "Gabi vai achar que eu não leio". Diante disso, procuro fazer comentários (mesmo que imbecis) em alguns textos para ter certeza que leio suas sábias palavras. Não quero que saia que leio pelo peso de ser seu amigo e ter que fazer média, mas por que (separado? nunca sei as regras dos porquês!), você escreve dignamente bem e eu simplesmente pago pau.
Muito difícil comentar aqui, seus textos são tão completos e como disse o Victor, tratam de idéias complexas de uma forma tão simples e confortante, que não nos resta o que comentar; Sim, eu disse confortante, ao chegar no ultimo ponto-final dá uma paz interna tão imensa, pois tudo que fala faz tanto sentido pra mim, mesmo eu não tenho sua capacidade intelectual de abstração para ter pensado nisso antes.